sábado, 9 de janeiro de 2016

Âncora












Disfarça,
antes que perceba
que o que vem
não convém explicar,

Tudo que sucumbe
há sua hora
quem pode vencer um reflexo raso de fim de tarde
que bate na porta
dia e noite
até te alcançar

Cuspe tudo que te coloca
no mundo
disfarçado
do homem errado
que sequer pode errar

Tudo vem a galope
até que o sinal se interrompa
e você pare de se afastar

Volta
que o mundo é muito completo
e seu semblante anda sério
de criança velha que não quer mais brincar

A sorte sopra forte
é companheira da desordem
e no fundo
não há muito o que concertar

Outra garrafa de rum?

O mar anda bravo
vamos brindar!

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

O vestido e a filosofia



Sobre como um vestido branco e dourado (sim!) pode nos ajudar a entender o mundo.

Antes tarde do que nunca. Quem diria que algo tão simples como um vestido pudesse nos fazer compreender melhor o porquê de tanto desentendimento da humanidade. Eu acordei, e como muitas outras pessoas, me deparei com a tal polêmica. Abri a foto e vi nada mais nada menos do que um vestido branco e dourado. Chamei minha mãe e pasmem, ela o via preto e azul.
Pois bem, poderia ser apenas mais uma ilusão de ótica se não fosse o tremendo caos e loucura que causou. Talvez, o que mais intriga as pessoas, seja o fato de enxergamos a mesma coisa de maneiras diferentes. Só agora?
O mais interessante, é que por mais que se jure que o vestido é da cor oposta, a gente continua vendo da cor que viu antes. Algumas outras pessoas, talvez mais flexíveis, vêem de um jeito e depois de outro.
Bom, não há muito paradoxo em dizer que o mundo inteiro é assim. Pessoas enxergam o mundo de diversas maneiras e expõe isso na arte, na religião, na política. No entanto, o mundo que enxergamos, continua sendo o mesmo.
Em minha opinião, existem dois mundos. O mundo interno e o mundo externo, ambos se influenciando o tempo todo. Poderíamos também dizer que é o mundo das idéias e o mundo material. O fato é: É saudável enxergar as coisas de maneiras diferentes e é isso que constrói o mundo.
Até agora, não estourou nenhuma guerra e nem o mundo se dividiu entre os que enxergam um vestido branco-dourado e os que enxergam um vestido azul-preto. Talvez, daqui há alguns dias, alguém apareça enxergando amarelo e roxo e não cabe a nós julgá-lo como louco, afinal, por mais que céticos queiram comprovar, não existe verdade absoluta.
O mundo, assim como as situações, é o que a gente enxerga dele.
Então que tal, ao invés de guerras, discórdias e revoluções, a gente não veste nossos vestidos brancos-dourados-pretos-amarelos-lilás e desfila feliz da vida, comemorando o milagre da realidade diversa?

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

O silêncio da noite

O silêncio da noite é realmente algo esclarecedor. Mas o que o compõe é exatamente seus barulhos.
O barulho de um carro sozinho, de um ônibus atrasado. De uma TV solitária enfeitando a madrugada mediante a um vazio de uma respiração calma e sozinha.
É um bicho que habita e pia, um pingo que cai, uma planta que geme.
O silêncio da noite é todo pensamento que afoga a mente antes de dormir. E mente.
A cortina velha balançando com o vento. É meditação.
E a agonia do parto e do amor.
É a morte das estrelas que iluminam. Assim como um artista que se mata um pouco pra brilhar.
o silêncio da noite é cheio de barulho
exausto
como um olho aceso que consome
e um outro
que não dorme.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Será que somos medíocres?

Será que somos medíocres?
Será que habitamos um espaço e destruímos nossa casa
Que inventamos artifícios calculados pra exaltar nossa vaidade
Será que exaltamos o outro pra disfarçar nossa ausência
Descobrimos o amor pra rechear a covardia
Será que o mundo não é tão complexo
Mas criamos nosso mundo pra retratar o inverso?
Será que nada é tão satisfatório
Que a solidão é companhia
E todo o resto é uma corda bamba
Que delira?
Será que nada é um dilema
E nossa vida é tão pequena
Será que somos só um resto?
E de nada adianta disfarçar
Um ciclo completo de estupidez 
Afogado na embriagues
Do acreditar
Será que a poética é independente
E somos apenas reluzentes 
De algo que não existiu
Será que somos tão poucos
Que a nossa voz já tão rouca
Que o tempo que virá já passou
Que o suspiro de sonhar esvaiu
Será que o mundo persiste
Será que somos medíocres?

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Sobre não gostar de arroz



Nunca fui uma criança chata para comer. Pelo contrário, era possível que meu prato estivesse recheado de legumes e verduras e que um simples brócolis, beterraba, quiçá abobrinha me fizesse feliz. Era comum ver crianças fazendo birra e bicos exagerados para qualquer coisa verde que brilhasse em sua direção e os pais, desesperados em uma angústia única, cediam a um prato de batatas fritas sorridentes que o filho comia orgulhoso de sua conquista.
“Odeio verduras”. Diziam-me. E eu, quieta, olhava para os pratos que não satisfeitos, continham também uma mistura única de catchup, mostarda, maionese, barbecue, tudo misturado aqui e agora.
Mas a verdade, é que apesar de toda a minha disponibilidade alimentar, eu não gostava muito de arroz. Comia, claro. Mas não gostava. Até que um dia, em um desses em que a gente acorda disposto em cometer uma transgressão, como faltar um dia no trabalho ou faculdade, resolvi não comer arroz.
Foi na escola, na hora do almoço. E quando a moça em um ato quase automático de colocar arroz no meu prato, parou estupefata com minha fala. “Arroz não”, disse eu. Ela me olhou, como que prevendo uma catástrofe estudantil e com certa dor no peito, tenho certeza, passou meu prato pra frente.
Não sei que espécie de mágica aconteceu, mas em segundos, todos já sabiam do feito. Justo o arroz, tão macio, tão branco, tão comum. Justo o arroz que todo mundo come, que está na feijoada aos domingos na comunidade e no jantar sofisticado de risoto na Vieira Souto, justo o arroz, cara metade do feijão, que todo mundo come, quase que assim, sem pensar. Justo ele.
Se eu não gostasse de espinafre seria compreensível, ou se não bebesse refrigerante, ou até gelatina colorida. Mas arroz?
Caminhava passo a passo com uma bandeja que continha um prato incompleto. Eu estava indo contra a sociedade. E ouvia comentários sussurrados, treinando para a vida adulta de condenação ao próximo. “O arroz tem a maior fonte de nutrientes, o arroz é importante, o arroz é bonito, o arroz é tudo na vida de um homem.”
Naquele dia sentei. E não comi arroz, nem feijão, nem nada. Não sei se minha surpresa era pelo prato ou pelo mundo. Hoje sei que o arroz pode ser substituído por trilhões de coisas. E sei que a galera da alimentação viva vive sem arroz, a da macrobiótica, jamais. Mas ambas vivem.
Feliz ou infelizmente, cresci e me tornei uma adulta que sim, come arroz. Ainda sem gostar, mas come. E por que? Porque no dia seguinte, para evitar o desconforto geral da nação, com certo constrangimento, consenti com a presença daqueles grãos molengos na minha vida. E passei a conviver com algo que não cheira nem fede, por sorte, a única coisa no meu dia a dia que sobrevive assim.
Talvez, se eu tivesse persistido, o mundo seria hoje um lugar diferente. Talvez não. Mas a grande verdade, é que ainda prefiro o bom e velho feijão, derramado em um belo prato de macarrão.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Sobre a importância do Rock

Quase como um amante antigo que por mais que o tempo passe, desloca-se por debaixo da cama, adormecendo ao som dos monstros, e dos demônios, dá três pulos em cima do palco e coloca o bicho papão pra dormir. E assim, grita não para chamar, mas para expulsar, energia pulsando que pulsa no mundo e de uma forma ou de outra, faz ele girar. Manifestação de berros e kundallini, yang possessivo, o Rock é sempre um suspiro.

Grito, berro, movimento, consolida e concretiza todo o chão, todo o céu todo o resto. Entre cordas, pulsos e bebidas. Droga é o que se esconde dentro de nós. Pedra sobre pedra, liberta, expurga, sussurra e transcende.


Ah, o Rock. Há o Rock. 

sábado, 21 de junho de 2014

guarda

O mundo desfeito parece satisfeito
Com as vontades que gritam
As músicas calam as vozes extremas externas caladas
Números e números que ainda que somados não fazem sentido algum
Nem alguém
Juntando nomes e pronomes impróprios
Pode causar uma expressão vulgar
Que reflete em um lago a noite há tantos
E alguém está sozinho agora
Frente a frente com seus desejos
Que gritam e envolvem os astros
Vamos beber de um mesmo cálice
E brindar o improvável
E somar os laços ao som de blues
Azul o mundo se pinta aos nossos olhos
Que renasce
A superfície é profunda

E  tantas.